Vida de Bombeiro
Era só uma segunda-feira, eu acordei às 05h45, como em um dia qualquer, e fui treinar. Logo que retornei, ao pisar em casa, exatamente às 07h08, recebi a informação de que havia um incêndio em um reservatório gigantesco de combustível em Chapecó.
Imediatamente, coloquei a farda, peguei meu material e corri para o quartel. Eu sabia que a guarnição que estava no fim do plantão e alguns membros da guarnição que assumiria o novo turno já estavam se deslocando para o local do incêndio. Enquanto eu armazena meus EPIs na viatura e ajudava a carregar o material necessário para o estabelecimento de uma estrutura de operação de grande porte, alguns bombeiros chegaram até mim e falaram:
– Tenente, eu vou com o senhor.
– Eu também vou, tenente.
Na hora eu não tive tempo para interpretar qual era a situação daqueles guerreiros, mas sabia que toda a ajuda seria bem-vinda. Então organizei outra viatura para que todos pudessem se deslocar.
Pensamento de Bombeiro
Ainda durante o deslocamento, enquanto pensava nas infinitas possibilidades que a ocorrência poderia tomar, ainda bem distante, visualizava a fumaça que já tomava conta do céu, era possível ver labaredas que pulsavam para o alto como um vulcão em erupção e, por uma fração de segundos, pela primeira vez, eu pensei que aquela poderia não ser só mais uma ocorrência. Mas aquela manhã eu poderia ter dado o último beijo na minha esposa grávida de 8 meses.
Quanto mais nos aproximávamos do local, mais assustador parecia, já era possível visualizar quatro tanques de combustível gigantescos envoltos pelas chamas. Naquele momento, eu seria o militar mais antigo na cena, e decisões erradas poderiam comprometer a ocorrência e colocar em risco a vida de todos aqueles bombeiros e civis que estavam atuando.
Ao descer da viatura, foi possível perceber que o caos estava instaurado. Muito fogo, muito calor, muita fumaça, acesso dificultado, trânsito caótico e, até o momento, poucos recursos. A equipe que chegou primeiro no local já havia começado a estruturar um combate. Então, à medida que os recursos iam chegando montamos uma estratégia e colocamos em prática.
Comprometimento dos Bombeiros
Todo início de grandes ocorrências é muito difícil. Existem muitas limitações e exigem um processo próprio de amadurecimento da ocorrência. Ao passar das primeiras horas já tínhamos efetivo, caminhões e recursos logísticos suficientes para a completa execução da estratégia, que manteve-se efetiva durante todo o dia. A quantidade de líquido combustível era imensa, o calor muito intenso, o que limitava a aproximação das viaturas, sob risco de literalmente derreter.
Aqueles bombeiros e bombeiras que amanheceram para apenas mais um dia, estavam lá, entregando todas as suas forças para garantir que, aquilo que já era um desastre, não ficasse ainda maior. E assim fizeram durante três dias. Ao longo de toda a ocorrência, as equipes se revezavam em turnos de 12 horas, era possível ver o desgaste físico no semblante de cada guerreiro ao final do turno. Alguns, saiam de um turno, descansavam algumas horas e retornavam prontos para continuar o combate.
Enfrentando os desafios
Embora estejamos sempre prontos, não sabemos quando essas ocorrências irão acontecer, muito menos quando irão acabar. Mas essas situações servem para lembrarmos o porquê estamos aqui, o porquê somos bombeiros.
Durante a execução do trabalho recebemos inúmeras críticas. Estamos o tempo todo aprendendo, com as experiências próprias e a dos mais experientes. Theodore Roosevelt diria que: “O que importa não é o homem que critica ou aquele que aponta como o bravo tropeçou. Importante, em verdade, é o homem que está na arena, com a face coberta de poeira, suor e sangue; que luta com bravura, erra e, seguidamente, tenta atingir o alvo.”
Depois, com mais calma, eu soube que aqueles bombeiros que foram comigo no primeiro dia de combate não estavam nem saindo, nem entrando de serviço, estavam de folga e um até de férias. Simplesmente acordaram, viram a notícia do incêndio às 07h da manhã e correram para o quartel sabendo que a ajuda seria necessária.
Essa não foi a primeira nem a última vez que vejo isso acontecer. E é esse sentimento que me dá força para ficar lá quantas horas forem necessárias, até o cumprimento da missão.
A cada bombeiro militar, voluntário, comunitário, civil, empresário, colaborador que contribuiu para o sucesso da ocorrência, a minha continência e o meu respeito.
Tenente Tiago Lucian
No link abaixo você conhece um pouco mais sobre como se tornar um bombeiro: https://tiagolucian.com.br/2023/07/28/bombeiro-militar/
TEXTO muito bem redigido e de uma forma muito simples de interpretação . PARABÉNS! Independente da cor da farda merecemos TODOS o respeito necessário pois como o descrito acima, muitos fazem isso por amor ,sem se quer receber. Amor a vida e a profissão. Obrigada por compartilhar conosco e abraços a família linda!
Por baixo de toda farda existe uma pessoa que também sente e é importante para outras pessoas. Essa sensibilidade é o que nos torna humanos. Obrigado pelo seu comentário.
Parabéns Tiago, muito emocionante teu relato, lembro de você uma pessoa determinada quando estávamos revisando Física, você uma pessoa ímpar, dedicado e apaixonado pela profissão que almejava, que Deus continue te abençoando e dando a graça de ver sua família linda que formou crescer guiada e protegida sempre, um grande abraço prof Franciele …
Que grata surpresa ler seu comentário aqui, professora. Com certeza você fez parte da minha jornada e da construção que sou hoje. Obrigado por tudo. Abração
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